segunda-feira, 9 de maio de 2011

O QUE É LEISHMANIOSE?


A Leishmaniose Visceral é considerada uma antropozoonose (doença que se transmite 
dos animais aos homens e vice-versa) e atualmente está entre as seis endemias prioritárias 
do mundo (OMS). Essa doença apresenta ampla distribuição mundial e mais de 90% dos 
casos que ocorrem na América Latina, são diagnosticados no Brasil.

O cão é o portador mais bem estudado e por isso é considerado o principal reservatório 
doméstico, servindo como fonte de infecção para o inseto vetor. Porém outros animais 
como gatos, raposas, gambás, roedores, também são reservatórios da doença.

Hoje, um decreto federal do senado, nº 51.838, de 14 de março de 1963, condena
todos os animais com suspeita de Leishmaniose Visceral Canina a serem eutanasiados,
e como se não bastasse, uma portaria interministerial nº 1.426, de 11 de julho de 2008, 
proíbe o tratamento de cães com a doença com produtos de uso humano ou não 
registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Ao contrário do que tem sido divulgado, a OMS e vários pesquisadores questionam a 
eficácia do sacrifício de animais como medida de combate à doença, visto que 
mesmo com a matança de animais por sucessivos anos, o número de pessoas 
infectadas com a doença só tem aumentado.

O Brasil é o único país do mundo que mata animais com leishmaniose como forma 
de controle da doença. E os resultados globais apresentados pelo Ministério da Saúde 
denotam que a adoção de tal técnica não tem obtido os resultados esperados.

Atualmente, os principais métodos utilizados para o diagnóstico sorológico são: 
o ELISA (Reação Imunoenzimática) e a RIFI (Reação de Imunofluorescência
Indireta) utilizando antígenos totais, e objetivam detectar anticorpos contra Leishmania.
 Porém estes apresentam um alto índice de resultados falso-negativos, pela demora em 
apresentar a produção de anticorpos para o teste detectar (em média três meses após ser
infectado), e também de resultados falso- positivos, já que outras doenças podem 
apresentar reações cruzadas como: chagas, toxoplasmose, erliquiose, co-infecção 
por erliquiose e babesiose e neosporose (Zanette, et al., 2006).

Estudos indicam que os diagnósticos sorológicos apresentam um índice de resultados 
falso-positivos chegam a 48% e devem ser utilizados, estritamente, para levantamento 
epidemiológico e nunca como critério de diagnóstico da doença.

Os exames parasitológicos são os mais indicados para o diagnóstico seguro e são considerados 
como o teste padrão ouro para o diagnóstico da doença. Os testes sorológicos utilizando 
proteínas recombinantes aumentam a especificidade do teste minimizando a ocorrência de 
reações cruzadas, mas que, ainda assim, ocorrem em número expressivo.

O exame parasitológico direto é realizado por meio de punção de órgão linfóides, como linfonodos, 
baço e medula óssea. Trata-se de um teste de alta especificidade. Ou seja, uma vez visualizado 
o parasito, não há dúvidas quanto à positividade da amostra. É considerado o mais confiável por 
especialistas para a confirmação do estado de portador.

O Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral Americana do Estado de São 
Paulo não preconiza a realização de exames de contraprova e se este, por motivos de 
força maior (solicitação judicial) for realizado, só serão aceitos os resultados obtidos
de Laboratório de Referência Estadual. Esse importante fato, isoladamente, já condena a 
morte de milhares de cães, cujo primeiro exame diagnóstico, devido a sua precariedade, pode 
ter acusado falso positivo, além de impor ao proprietário do animal, que contestar o resultado 
positivo, a obrigatoriedade de sobrecarregar ainda mais Poder Judiciário, com um processo que 
pode levar anos para ser concluído, piorando ainda mais a situação, principalmente no caso 
do animal ser realmente portador e reservatório da zoonose, uma vez que o mesmo, até a 
confirmação não será tratado.

Sendo assim, para evitar que animais sejam mortos indevidamente, para um diagnóstico
de certeza para a LVC, para termos o conhecimento real e preciso da quantidade 
de animais infectados com essa importante zoonose, a fim de proteger os humanos, 
entendemos que o procedimento diagnóstico mais eficaz e seguro seria através da realização 
de uma triagem sorológica (e.g., RIFI e ELISA), e nos cães com resultados positivos realizar a 
confirmação por algum dos métodos parasitológicos, para aumentar a possibilidade de 
diagnóstico da infecção ativa e minimizar a possibilidade de reação cruzadas. Os métodos 
de imunomarcação (imuno-histoquímica ou imunocitoquímica) aumentam a capacidade dos 
métodos parasitológicos em detectar o parasito.

Somente embasados em dados técnicos confiáveis sobre o número real de animais infectados 
pela Leishmaniose Visceral Canina poderemos desenvolver técnicas mais eficazes para diminuir 
sua disseminação, possibilitando o controle ético e humanitário da doença e o correto tratamento 
em seres humanos.

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