quarta-feira, 4 de maio de 2011

A responsabilidade de ser Protetor de Animais




Ultimamente é frequente o número de pessoas envolvidas com a causa animal que 
desistem , e divulgam isso como se os outros tivessem a obrigação de recolher os seus
 animais e resolver o problema criado por eles. Não bastasse isso, ainda temos outro 
número crescente de protetores que morrem e deixam 70, 100, 200 animais totalmente à 
míngua e entregues à própria sorte. Às vezes quando tomamos conhecimento do caso 
alguns destes animais já morreram por inanição, por brigas, doenças e frequentemente 
nestes casos encontramos o canibalismo. E quem tem condições de absorver estes 
animais se estamos todos superlotados e com dívidas em clínicas e lojas de rações?

Eu sempre digo a todos que o limite entre sanidade mental e desequilíbrio, na proteção 
animal, é muito tênue. Realmente não é fácil lidar com o pior ser humano que existe, um 
ser capaz de mal tratar e cometer as maiores atrocidades com outro totalmente indefeso, 
ou pior, quando esse ser indefeso pertence a esse humano, e vive somente por ele e para 
ele. Recolhemos das ruas animais em situações tão deploráveis que algumas vezes 
tendemos a nos revoltar com “todos” os seres humanos, porém esse é o primeiro passo 
para o desequilíbrio mental, que pode colocar em risco nossa vida, a vida de nossos 
familiares e a vida de nossos resgatados. 

Quando um protetor começa a dizer que “gosta mais de bicho do que de gente”, para 
humanos, geralmente ele é encarado pelos que não o conhecem e não tem conhecimento 
de sua luta como louco, e as pessoas em geral passam a se afastar dele. Entre nós, 
protetores, isso é compreensível por compartilharmos das mesmas vivências, porém quem 
dá esse primeiro passo geralmente dará o segundo que é atacar verbalmente a todos ao 
seu redor, às vezes ataca aos familiares, aos amigos e até os outros protetores que estão 
ao seu lado na militância, também salvando vidas.

O terceiro passo normalmente é o isolamento, a pessoa passa a querer somente a 
companhia dos animais, isola-se do mundo. Normalmente quando chega a este estágio 
já está fazendo tratamento contra depressão ou bipolaridade, já se afastou dos familiares, 
dos amigos, da família, perdeu o emprego, passou a perder a vaidade e, algumas vezes, 
não diferencia a sua vida da vida de seus animais. Então passa a recolher animais das 
ruas indiscriminadamente, como se quisesse, ou se pudesse, resolver a problemática dos 
animais sozinha. Neste ponto o único relacionamento que tem com outras pessoas é para 
pedir ajuda financeira, que dificilmente vem de acordo com o necessário, o que resulta em 
dezenas de animais na casa do protetor... Ambos, animais e humanos, passando 
necessidades. 

Quantos de nós não conhecemos esta história: Protetor sem amigos, sem familiares, 
sem emprego, sem dinheiro, com ordem de despejo e com dezenas de animais.

Já está cada vez mais difícil doar animais, principalmente pelo fato dele não confiar em 
nenhum humano, e se torna cada dia mais perigoso que este protetor se transforme num colecionador

Não existe uma fórmula para evitar que isso aconteça, todos nós estamos sujeitos a isso, 
mas penso que uma base familiar e amigos sinceros são de extrema necessidade para
 nos mantermos equilibrados. No meu caso particularmente, que já estive à beira de chegar 
a este estágio, que abandonei meu emprego, que recolhia animais indiscriminadamente 
sem pensar nas contas, que cheguei a dever em clínicas veterinárias cerca de duas ou 
três vezes o salário que recebo hoje, que pensei em me separar do meu marido porque 
ele tentava de alguma forma brecar meu impulso por recolher animais, que não pensava 
que minha filha, de dois anos na época, precisava de mim, que me afastei dos meus 
amigos, etc.. 



 O que me ajudou foi exatamente a família... Ouvir aos que me amam, com a mente aberta 
para poder absorver tudo aquilo, olhar ao redor e entender que não sou capaz de mudar o
 mundo, nem de salvar a todos os animais, entender que para proteger animais necessito 
estar equilibrada para não proporcionar a eles uma situação, às vezes, 
pior do que a que eles se encontravam antes de serem resgatados, 
perceber que os protetores de animais desequilibrados  e agressivos não são 
levados a sério, não podem levantar uma bandeira nunca atingirão os seus objetivos 
na sociedade por não possuírem o potencial de credibilidade necessário para 
defender a causa, aprender resgatar animais de acordo 
com a minha capacidade financeira de lhes proporcionar tudo o que for necessário 
para seu tratamento enquanto estiver sob minha guarda, com a consciência de 
que ninguém tem a obrigação de me ajudar, e principalmente, pensar no amanhã.



Se amanhã eu não estiver mais neste mundo o que será de meus animais? Será que meu
marido merece se transformar em protetor de animais de forma obrigatória? Será que ele
terá condições de cuidar da casa, dos filhos e dos animais sozinho? Será que ele quer
isso? Será que ele merece?... Ele não é protetor de animais, eu quem sou.

E seu eu morasse sozinha com 50 animais e morresse, o que seria deles?

Se você ama animais pense nisso, lembre-se que nenhum de nós tem garantia de vida 
neste planeta, pense que os animais sob sua guarda não podem se defender, e são 
totalmente dependentes de você. Lembre-se que a morte faz parte da vida e preocupe-se 
com o que será deles amanhã se você morrer hoje.

E pra você que decidiu deixar a causa animal porque tudo o que descrevi acima aconteceu 
com você, lembre-se que ninguém tem a obrigação de assumir o seu compromisso ou de 
resolver os seus problemas. Saia da causa de cabeça erguida, e doe antes todos os 
animais que estão sob sua guarda, assuma a responsabilidade pelo que fez, se você 
resgatou cabe a você doar... Essa obrigação é sua, de mais ninguém.


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